terça-feira, 22 de setembro de 2009

PARA O CUCA


Se vamos viver muitas vidas
Ha, ha, ha!
Quero te encontrar em todas elas!
Encontros felizes, profundos, verdadeiros...
Como este: nenhuma necessidade de constância
Nenhuma, de permanência.
Apenas uma certeza feliz no peito:
Amigos SÃO!
Amigos vão
Mas amigos não passarão ilesos
À intensidade e ao amor de uma amizade!
São todos os bons sentimentos pulsando na gente!
De algum modo, amigos também ESTÃO
Conosco em todas as estradas
Ainda que seja do lado de dentro, porque...
Amigos SÃO!
Amigos vão
Mas amigos não passarão ilesos
À intensidade e ao amor de uma amizade!
Vamos ter sempre marcas de riso e desespero
Porque não se constrói nada de sério sem
A dualidade dos sentimentos, da vida!
Vamos ter marcas de dor e de prazer
E é sempre assim que vou lembrar de você:
Inteiro!
Entre sonhos e pesadelos
Vida plena de emoções e Luz
Candeeiro!
Em alma, a gente é irmão!
E desejo ver viver, atemporalmente,
Esta cumplicidade silenciosa e sincera.
Algo feliz e não perdido
Entre a maturidade do presente
E as doces quimeras do vivido.
Tudo sempre muito bem vivido!


Daniela Mendes Marques, julho de 2008.
Foto: Cuca e Maria Lua. Por: Hézio Rik B. Figueiredo

O JARDIM


Inusitado jardim...
Caminho por ele, que sempre me surpreende!
Aroma, colorido, paz.
Tudo que traz ou é me aquieta com surpresa,
Que é, para mim, a melhor quietude.
A cada momento uma nova flor
Não fui eu quem a plantei ali desta vez!
Nem mesmo cuidei para que florasse.
Ela simplesmente surgiu alegre, delicada,
Independente, dançando, quase saltando
E sempre livre na aquarela.
Apenas mantenho a terra adubada,
Os portões abertos para os passantes
Compartilharem dos cheiros, das cores,
Do clima e, de repente...
Uma flor tão rara de linda!
É o instante daquela flor,
Tudo pára para a flor radiante
E tudo brilha como nas descobertas!
Talvez o vento ou quem sabe
Um passarinho generoso
Tenha trazido a semente e
Dado de presente ao jardim,
Que alimento e que é alimento para mim.
Um vento bom que vai e vem
Um passarinho gentil e transformador
Deixo-os pousar por instantes no meu colo:
O vento, o passarinho, as flores
E toda delicadeza que os contém!
(porque a delicadeza não pode ser contida)
Um jardim inteiro no meu peito
E que contemplo quando deito
Na relva da vida fluida que passa...
Dinâmica!
E nos conduz ao desconhecido.
Fotografo, então, na lembrança
Esta imagem que é acalento
E adormeço tranqüila
Porque vive um jardim aqui dentro!

Daniela Mendes Marques, setembro de 2008.
Imagem: "O Jardim", de Joan Miró.

ALADO

Teu jeito próprio e livre de ser
Não é inveja, não quero
que deixes de ser para que eu seja
Não é pertença
Não quero ter-te para ser-te
Quero tua presença de pássaro
Beber na tua fonte
já que és pura inspiração
E deixar-te sempre ir
após intensa breve visitação
Sem secar-te nunca
que és mais lindo no delta
das idéias que somas
rio após rio
que és mais forte, mais fonte
a cada regresso
vivência após vivência
deste ser imerso no mundo
preocupado em ter asas
para estes vôos distantes
e fôlego para as profundezas
de filósofo e de errante
Vou à margem despedir-me
olhar o céu, tocar o rio
parte de ti voa azul, da cor que te vejo
outra mergulha barrenta, da cor que te sinto
Vou à margem despir-me de ti
para que possas partir sem doer
E traz-me tua partida
uma certeza límpida e confortante
de jamais encerrar-nos em despedida.

Daniela Mendes Marques, fevereiro de 2009.